O Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC) apresentou a parte final do seu sexto relatório de avaliação (em inglês) a 20 de março de 2023. Esta é a avaliação mais integrada e acessível da década sobre os fatores, impactos e soluções em matéria de alterações climáticas.
O relatório demonstra a realidade devastadora e os riscos colocados pela crise climática, tais como escassez de alimentos, mortalidade humana e animal devido ao calor e humidade, e perda de habitats e espécies. Não há uma, mas sim três crises globais: perda de biodiversidade, alterações climáticas, e pobreza e desigualdade. Cada uma destas três crises tem um impacto negativo sobre as outras duas.
O relatório faz uma leitura sóbria mas mantém a esperança, e tem sido dito que oferece um “guia de sobrevivência para a humanidade face às alterações climáticas”. Inclui opções múltiplas, viáveis e eficazes que permitem reduzir as emissões de gases com efeito de estufa e adaptarmo-nos às alterações climáticas causadas pelo homem. Nunca estivemos tão bem equipados para resolver o desafio climático. Temos aquilo a que Achim Steiner, Administrador do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas, chama uma “janela de oportunidade a fechar rapidamente”, mas se agirmos agora, ainda podemos assegurar um futuro viável e sustentável para todos.
No entanto, é surpreendente que o IPCC tenha listado a energia hidroeléctrica como um instrumento para combater as alterações climáticas. Precisamos que as ferramentas para combater as alterações climáticas sejam aquelas que não exacerbam outros problemas, tais como a perda de biodiversidade e os meios de subsistência das populações ribeirinhas.
Na COP27 em Sharm el-Sheikh, vários países tentaram (em vão) fazer com que a ONU concordasse em eliminar gradualmente o petróleo e o gás, bem como o carvão. Esta questão não vai desaparecer, com a UE agora a apoiar abertamente tal medida. Este relatório do IPCC será central para a COP28, quando os países se reunirem novamente no Dubai, no final deste ano.
Durante 40 anos, a abordagem integrada d’A Rocha à conservação levou-nos a procurar formas de interdependência saudável entre as paisagens e os seus habitantes, seja através dos meios de subsistência criados pelo processamento de carité no norte do Gana, do ecoturismo nas florestas costeiras do Quénia, que suporta os custos escolares das crianças locais, ou das comunidades na Índia que aprendem a viver pacificamente com os elefantes. Acreditamos que Deus criou o mundo para ser um lar seguro para todos os seres vivos e temos visto essa verdade na prática no nosso trabalho em seis continentes.
Estamos empenhados com os locais, pessoas e espécies que trabalhamos para proteger e restaurar em todo o mundo. Reconhecemos também que não carregamos o peso total da sua sobrevivência. Os nossos esforços são inadequados, mas o amor e a fidelidade de Deus por tudo o que Ele fez permite-nos manter a esperançosos de que a história ainda não terminou.
Para mais informações e análise mais aprofundada, recomendamos os seguintes artigos e curtas-metragens: (em inglês)
Prof. Katharine Hayhoe: What is the IPCC Synthesis Report for the 6th Assessment
IPCC Synthesis Report: UN Climate Report 5 Facts
Simon Lewis em The Guardian: The IPCC’s climate report has drawn the battle lines for COP28: oil profits or a liveable future
Le Monde: IPCC Report: Humanity still has the means to act on the Climate
Synchronicity Earth: The myth of green hydropower
BBC: Five things we’ve learned from UN climate report
Imagem: O gráfico “riscas de aquecimento” publicado por Ed Hawkins da Universidade de Reading, retrata o aumento da temperatura média global de 1850 (à esquerdo no gráfico) até 2018 (à direita). (CC BY 4.0)